segunda-feira, 4 de maio de 2009

Publicidade Gay, Introdução da Análise

Conforme comentado pelo literatum nessa semana e na próxima postarei, em partes, um trabalho (resumido) de análise do discurso voltado para campanhas publicitárias que envolvem a temática LGBT.

Monitorando sites de comunicação e propaganda vez ou outra me deparo com a notícia de que algum comercial, geralmente estrangeiro, foi tirado do ar por ser considerado homofóbico ou por ser considerado inaqueado e até ofensivo por mostrar alguma cena de afeto entre pessoas do mesmo sexo.

Como é o caso do (recente) comercial da Doritos que foi retirado do ar por ter sido considerado homofóbico por ativistas LGBTs. No comercial temos quatro amigos dentro de um carro em movimento divindido um pacote de Doritos até que começa a tocar YMCA e o garoto mais retraído na frente do carro começa a cantar e fazer a coreografia (clássica) da música do Village People. Os outros amigos olham para o garoto assustados e trocam olhares para ver se alguém está entendendo alguma coisa. Quando o refrão repete entra a assinatura da campanha: "Quer dividir alguma coisa com seus amigos? Divide um Doritos"1.

Em alguns comentários sobre a retirada do comercial do ar existe a dúvida se a peça é ou não homofóbica. Comentários esses que desconsideram o fato de que a música YMCA um símbolo mundial (signo convencionado) da comunidade LGBT - associada a idéia de que o garoto está fazendo algo de errado, ou que não mereça ser compartilhado, ao dançar e cantar tal música é exatamente o motivo pelo qual esse comercial foi retirado. Pois se a música fosse religiosa com certeza ninguém teria dúvida de que havia algum tipo de descriminação. Visto que se é pra passar a idéia de alguém cantando mal e dançando estranho milhares de outras músicas poderiam servir.

Outro exemplo de comercial banido é o comercial britânico da maionese Deli Mayo do grupo americano Heinz que apresenta uma típica manhã em família onde a mãe prepara o lanche escolar dos filhos que correm para o carro do pai que se despede da mãe com um beijo.2 "A diferença é que para ressaltar a originalidade do produto, um molho de maionese para salada e lanches de origem nova-iorquina, um chef com sotaque americano substitui a mãe nas cenas". Tal cena, após quatro semanas de exibição em canais britânicos a peça publicitária foi retirada do ar após queixas de pais que consideravam-na ofensiva e se sentiram incomodados de terem que explicar aos seus filhos por que dois homens estavam se beijando.

Alguns grupos conservadores norte-americanos, principalmente acreditam que comerciais como os da Heinz fazem parte da programação dos movimentos homossexuais (gay agenda) para "promover a aceitação sexual da homossexualidade". Tais grupos acreditam que os movimentos homossexuais estariam fazendo uso dos meios de comunicação, da Ciência e do Direito para "disseminar valores anticristãos". 3

Na verdade esses dois comerciais ilutram bem como o tema ainda gera polêmica na mídia, na publibicidade e em nossa sociedade. Os autores Torben Vestergaard e Kim Schøder dizem no livro A linguagem da propaganda que: "os anunciantes têm que agradar aos leitores e jamais perturbá-lo ou ofendê-los" e que "pela análise da publicidade é possível medir a temperatura da ideologia popular"; e definem a "expressão temperatura ideológica como uma abstração - na verdade, o paralelismo com a fisiologia humana implica que a ideologia, tal com a temperatura corporal, nunca é estática". Os autores ainda afirmam que "a propaganda reflete valores e atitudes sociais generalizados" e exemplificam dizendo que "a ênfase dada aos jovens não deve ser encarada como distorção de um fato social, mas como um indicador da pouca consideração que a nossa cultura tem pela velhice".
O que signifcaria, então, o aparecimento de personagens homossexuais em propagandas recentes? Um simples golpe de marketing para abocanhar uma parcela do pink money? Uma expressão de um possível engajamento da Propaganda nos direitos homossexuais? Ou um exemplo de que o tema está deixando de ser tabu na sociedade?
É com o intuito de investigar estas questões e analisar as diferentes maneiras de representar um personagem homossexual na publicidade, tomando como referência ferramentas da Análise do Discurso que durante os próximos posts continuarei falando sobre o assunto.

7 comentários:

  1. Homem Inteligente Viril5 de maio de 2009 às 22:15

    Nossa, como vocês escrevem bem. Parabéns! Gostei!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado!

    Esqueci de dizer que estou procurando comerciais brasileiros que possam substituir os meus exemplos que não são. Se só lembrar o nome do produto fala que eu pesquiso.

    Agradeço novamente.

    ResponderExcluir
  3. Como vc se utilizara da análise do discurso para compreender a questão?

    ResponderExcluir
  4. Nossa, como estamos falando bonito... fiquei todo BA-BA-DO!
    Sinceramente, não sei se é por ser metido a relativista, mas não vi nada demais no comercial do Doritos.
    Tenho birra de ativista procurando "cabelo em ovo", e independente do Village People, o comercial poderia ser sobre uma música cafona e o menino se empolgar. E há toda uma campanha, com outras cenas consideradas constrangedoras, que não devem ser divididas com os amigos... sem falar que se um grupo de meninos hétero está num carro e um começa a "dar pinta" ao som de Y.M.C.A, temos uma situação atípica, e isso é fato.
    Quantas vezes nós não nos surpreendemos com gostos dos nossos amigos?
    Eu mesmo, tenho até alguns amigos que considero inteligentes e PASMEM, se dizem religiosos!! Para mim, isso é o fim...
    Mas estou me desvirtuando. O que quero dizer é que entendo que muitas vezes seja preciso radicalizar para educar e tentar acabar com décadas e décadas de uma massificação negativa da imagem gay. MAS, vez ou outra, penso que pesamos a mão.

    BY THE WAY: Enquanto LD estava escrevendo coisas sérias, eu estava apalpando o Hugh Jackman, que ele AMA!! Morra de inveja amiga!

    ResponderExcluir
  5. Homem Inteligente Viril6 de maio de 2009 às 21:41

    Prezado B Fab, no tocante ao comercial de Doritos, está muito claro que a mensagem é: "Quer dividir alguma coisa? Divida Doritos e não que você é gay." Mas pra mim está CLARO com o raiar do dia essa mensagem, que os "amigos" não querem saber do seu "outing" e nem aprovariam isso. Pode vir dizer que "poderia ser qualquer música", etc ... Mas a mensagem FOI esta.
    Concordo com você sobre os ativistas, radicais e exagerados, mas coloco aqui que NESSE ponto, o comercial é claramente jocoso com a comunidade. Como se é "normal e aceito" piadas de gays, o comercial passa ... mas ele leva sim essa mensagem.
    Sobre ser inteligente e religioso ... não entendi seu ponto. Por exemplo tenho uma paróquia aqui em Brasília, sou homossexual e ... rsrsrsrs ... brincadeira ... não sou padre. Aliás se fosse, seria um péssimo exemplo rsrsrs.
    Hugs.

    ResponderExcluir
  6. My man, o que eu dizia sobre inteligência e religião é, basicamente, que nesse ano eu me aceitei como uma pessoa intolerante sob muitos aspectos.
    Até por romantismo, eu gostava de pensar que era um gayzinho moderno, sem preconceitos, que aceita tudo...
    Mas tipo, mesmo conseguindo ver alguns ataques e me irritando com outros, não consigo mais apontar o dedo contra um rapaz heterossexual homofóbico da mesma maneira.
    Isso por que sei que mesmo sendo "minoria", não gosto de muita coisa, e nem quero gostar.
    Política e religião nunca devem ser discutidas, mas usei o exemplo por que é algo tão importante para mim. Quando alguém que eu admiro tem uma orientação religiosa diferente da minha, me decepciono. Não é nada grave, mas há um desencanto.
    Assim, não me sinto 100% honesto em reprovar um rapaz hétero que se identifique como homófobo, quando, se dependesse de mim, qualquer um que sequer SONHASSE com futebol seria milagrosamente fulminado por um raio.
    Sobre ativismo e o comercial, é aquela velha história da utopia de invisibilidade. Se fosse um comercial zoando o comportamento heterossexual masculino, iria sair como piada leve para as mulheres, e talvez fizessem um segundo mais machista. Mas como é algo que fala sobre gays (judeus, negros, ciganos...), é preciso ir cheio de dedos, politicamente correto...
    Vivo um conflito, entende? Sei que anos de opressão devem ser combatidos e que ainda temos que educar o povo. Mas acho que essa vigilância politicamente correta é chata e algumas vezes, exagerada.

    ResponderExcluir
  7. Homem Inteligente Viril7 de maio de 2009 às 10:12

    All Right.

    ResponderExcluir

Posts Anexos