Quando eu passei para o curso de Artes, arte para mim era o Renascimento. E o Davi de Michaelangelo o ideal de perfeição física e artística. Embora também já me interessasse por Vicent van Gogh e suas pinceladas não clássicas.
Quando iniciei o curso de Artes tinha a idéia fixa de que a arte tinha que ser bonita. Agradável aos sentidos, harmônica, como propagandas de perfume e catálogos de Design. Idealmente, BELA, fosse de qualquer canto do planeta.
Quando comecei a conhecer a produção de arte contemporânea e a estudar a sua filosofia (estética) – passados os preconceitos – percebi que o Davi não é tão belo assim. Pro meu irmão ele está acima do peso.
Entendi que Michaelangelo não foi um gênio que pegou o primeiro bloco de granito e esculpiu essa obra-prima. Que a sua genialidade está em fazer esquecer que admirar Davi é admirar a Igreja Católica, sua ideologia, e todo o poder que o dinheiro de fiéis ainda lhe dá. E que a profundidade dessa obra, para mim, está exatamente nesse ponto: como o interesse causado pela beleza da forma é capaz de sobressair ao contexto e ao conteúdo.
Quando eu conheci o trabalho do contemporâneo Ron Mueck me perguntei o que seria do Michaelangelo hoje. A beleza do trabalho de Mueck é muito mais densa, intrigante. São as “imperfeições” agigantadas; a emoção intuída nas expressões; o tema mundano da matéria humana tão rejeitado pelos ideais cristãos. A dúvida do porque ele não ter retratado modelos da bela forma física, já que domínio da técnica não lhe falta.
São as dúvidas e questões suscitadas por alguns artistas contemporâneos que me fazem achar que vale a pena ainda acreditar em alguma coisa. Porque ao identificar o “estranho” aprendi a me colocar na posição de investigação e não de ignorante rechaço.
Depois que comecei a estudar Artes descobri que a beleza não é uniforme. Que reconhecer algo como belo requer vários conceitos. Que dizer que algo é belo apenas pela forma é não se colocar na posição de aprofundar as coisas. Que o que eu achava belo antes era vazio, puro sintoma do adestramento à cultura de massa.
Quando passei a pesquisar descobri que tudo é questão de embasamento. Faltava e ainda falta conteúdo...
Profundo ... muito profundo...
ResponderExcluirComo sempre, acho que tudo é relativo.
ResponderExcluirSe o Michaelângelo vivesse hoje ou o Ron Mueck durante a renascença, o trabalho de ambos seria diferente, pois somos produto do nosso meio.
Independente do gênio de ambos, um não conseguiria se intrigar pelas mesmas questões que o outro, por não viver numa época que fervilhasse com essas questões.
E olha a frase engraçadinha que li essa semana:
"Se Michaelângelo fosse hétero, a Capela Sistina seria coberta por papel de parede" _Robin Tyler, escritor.
Michaelangelo poderia pensar exatamento como o Mueck, mas ele não teria trabalho se produzisse algo como o Mueck. Porque a Igreja não... apoiaria. E pelo o que eu saiba, um bloco de mármore nunca foi barato, até porque transportar as coisas nunca foi.
ResponderExcluirE essa relatividade está no que eu escrevi. A beleza é um conceito cultural. E se você só vê as coisas pelo prisma do culturamente difundido você acaba tendo uma visão limitada das coisas, incluindo a beleza que há qualquer uma delas.
Mas acho que independe do apoio da Igreja. É claro que para o Ron, Michaelângelo é arte, mas duvido muito que para Michaelângelo o que o Ron faz pudesse ser.
ResponderExcluirClaro, a arte é universal em sua capacidade de nos tocar, então ele não ficaria indiferente, mas acho que a cultura da renascença não permitiria a Michaelângelo ver o tipo de obra do Mueck como uma possibilidade artística.
Michaelangelo não teria como ver arte numa representação do corpo humano marcado pela vida terrena. Ele estava ligado aos ideais estéticos gregos clássicos e estava a serviço da Igreja que vê no corpo humano um castigo indigno de louvor. Provavelmente ele se interassaria por Mueck pela técnica.
ResponderExcluirMas o que eu quero dizer é que não vivemos na Renascença para repetir os dogmas do mundo cristão do que seria a idealização do corpo Divino, impossível para reles pecadores.
Vivemos numa época em que a beleza está em qualquer coisa basta ter sensibilidade e "conhecimento" para percebê-la. Ninguém precisa se sentir culpado por não ser divino. O corpo não é mais uma fonte de culpa cristã e as virtudes estão ao alcance de todos