quinta-feira, 19 de março de 2009

PUR-PU-RI-NA...

E perdemos Clodovil. Já disse aqui que eu leio o tenebroso jornal popular "MEIA-HORA" (leio mermo...), e na edição de ontem, fiquei dividido. A manchete falando sobre a morte do estilista e deputado tinha uma chamada respeitosa, falando dele e de seu sucesso, mas terminava com um "VIROU PUR-PU-RI-NA" em letras enormes e purpurinadas.

O jornal tem um lado "humorístico", mas na hora eu achei ofensivo. Só que o resto do texto era respeitoso... e ando pensando muito sobre essa mania gay de "procurar cabelo em ovo" nas coisas (next post). Então, até agora, não me decidi. Pensei que o Clodovil não gostaria da manchete, e como mais uma vez a homossexualidade toma a frente da personalidade, mas ultimamente ele estava mais relax com relação a isso, então talvez até gostasse.

A "mídia gay" se pronunciou sobre Clô dividida entre o amor e o ódio, como parecia ser a relação dele com sua identidade sexual. Militantes reclamaram de ele nunca ter apoiado "a causa", artistas falaram da língua ferina e humoristas lamentaram o fim de uma fonte. Polêmica e mais polêmica até o fim.

Não sou militante e tenho ressalvas com algumas coisas no movimento. Acho infantil que cobrassem de Clodovil, somente por usa posição, uma postura pró-homossexualidade. Por que ser gay não é uma opção, então ninguém é obrigado a gostar disso, e como ele mesmo dizia, não há motivo em ter orgulho de dar a bunda. Sei que a luta da comunidade vai muito além disso, mas ninguém deve ser forçado a tomar uma posição nessa luta.

E para mim, querendo ou não, ele tomava. Clodovil podia ser "sem noção" algumas vezes, falar besteira, ofender os outros, mas estava lá. A luta gay começa pela visibilidade, e Clô mostrou a nossa cara na mídia muito antes da querela dos beijos gays em novela.

Uns dirão que era uma imagem negativa, de uma bicha efeminada e que não aceitava essa condição, mas acho que era uma imagem humana. Se hoje um rapaz gay é hostilizado, imaginem quando Clodovil veio ao mundo, 7 décadas atrás? E imagino que não devia ser fácil servir de chacota para o país, sendo a imagem do gay efeminado para praticamente todos os programas humorísticos.

Contudo, Clô se impunha, e mesmo com uma postura combativa, foi aceito pelas donas de casa, estrelou uma peça onde aparecia de terno, meia arrastão e unhas pintadas, após se assumir, e terminou em Brasília, com votação expressiva.

E agora, se foi. De repente. Para morrer, basta estar vivo, mas que coisa... no caso de Clô, há a imortalidade da fama. Um arremate de glória para quem começou de baixo.

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