segunda-feira, 6 de julho de 2009

Publicidade Gay - Abordagem Alternativa

Agora que estou quase de férias voltei para terminar com esse tema antes de começar outros.

Em um recente comercial da norte-americana Levi's vemos um rapaz moreno em seu quarto escolhendo o jeans que vai usar e quando começa a vesti-lo percebe que quando ele sobe as calças emerge um cenário urbano ao seu redor que inclui um rapaz loiro em uma cabina telefônica que lhe sorri. O rapaz moreno, então, olha para a calça e volta para o loiro com um olhar decidido e puxa as calças de uma vez, fazendo com que o cenário urbano tome conta da tela. E é nesse novo cenário que o rapaz loiro vem ao encontro do protagonista e os dois seguem na mesma direção.11

Nesse comercial é possível a interpretação de um desfecho gay implícito. Orlandi diz que "segundo Diderot, há 'modos de expressão implícita que permite deixar entender sem incorrer na responsabilidade de ter dito'" para argumentar que o silêncio "não remete ao dito, ele se mantém como tal, ele permanece silêncio e significa". Então não seria porque o anunciante não recorreu a estereótipos ou mostrou um enlace de mãos no final que o anúncio não deixa de afirmar, também, que os dois personagens formam um casal. [ORLANDI, p. 67-68]

Há também a possível interpretação de que os dois rapazes são apenas amigos e que ao vestir o jeans o rapaz moreno não precisava vestir mais nada para ficar pronto e sair de casa para curtir com os amigos. A analista Eni Orlandi defende que "o sentido é múltiplo porque o silêncio é constitutivo" e "o silêncio trabalha os limites das diferentes formações discursivas, isto é, trabalha o jogo da contradição de sentidos e da identificação do sujeito". [ORLANDI, p. 73 e 6]

Essa ambiguidade interpretativa motivada pelo final em aberto do não entrelace de mãos, que delega ao espectador a escolha entre qual leitura possível é conveniente foi uma saída inteligente para o problema que qualquer anunciante enfrente quando tenta abordar o mundo LGBT, não provocar a ira de indivíduos homofóbicos e/ou conser. Porémvadora da sociedade. Embora para Bakhtin1: "um enunciado absolutamente neutro seja impossível"12. Porém, diferente do comercial da A&F, a ambiguidade da peça Levi's não é tão sutil.

Numa época em que anúncios com tema LGBT tem se tornado cada vez mais frequentes, o "gregarismo da repetição" torna o tema mais visível ao grande público já que "os signos só existem na medida em que são reconhecidos"13. Provavelmente se esse mesmo anúncio tivesse sido produzido algumas décadas mais "inocentes" atrás o mesmo teria passado despercebido por grande parte do público.

No entanto esse comercial perde a oportunidade de passar despercebido, também, quando foi inicialmente veiculado somente nos intervalos de programas com alto índice de uma audiência LGBT e no canal norte-americano direcionado ao mesmo público, LOGO, o que só re-afirma o posicionamento da marca na questão da diversidade sexual e "compromete" a marca ao ser associado por homofóbicos como incentivadores do "estilo de vida gay" (detesto esse termo). Acho que por não se comprometer, de fato, aos olhos da audiência gay que já compreende o significado da inexistência de demonstrações físicas de afeto em uma representação na mídia de uma relação homoafetiva usuais em filmes, novelas e seriados que não podem arriscar uma possível perda de aundiência e preferem não tomar partido exibindo o que poderia desagradar boa parte dos espectadores.

Então, mesmo sendo um comercial produzido como uma alternativa para a versão "hétero" da peça onde uma moça substitui o rapaz na cabine telefônica14, na era da Internet e do Youtube, a existência da versão "gay" não teria como não chegar aos olhos do grande público, fazendo com que a própria Levi''s tomasse uma posição e começasse a veicular o anúncio regularmente. Decisão essa que deve ter sido levada em consideração na premiação da associação norte-americana Commercial Closet Association - que monitora e avalia a abordagem da minoria LGBT nas diferentes mídias de propaganda (impressa, televisiva, etc.) em todo o mundo - pois essa peça foi a grande vencedora do ano de 2007.

A usual tática de algumas empresas de olho no pink money de produzir versões para os diferentes segmentos de público se encontra ameaçada pela rapidez da circulação de informações na internet que não possibilita que o espectador veja somente um ou outro.

12 BAKTHIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martings Fontes, 2003
13 BARTHES, Roland. Aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Colégio de França. In: Aula. São Paulo: Cultrix, 1996

2 comentários:

  1. ai ai... vc só sabe falar disso!!!AREHBABA!

    ResponderExcluir
  2. Ixi!
    Ainda tem mais 3 abordagens e mais a conclusão. =D
    Mas eu devo postar outras coisas entre um e outro
    E o literatum deve postar até a quarta, ele disse.

    ResponderExcluir

Posts Anexos