sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sou Gay, mas Sou Limpinho

"Sou gay, mas não sou pintosa e nem curto."

"Sou gay, mas pretendo ter uma vida digna. Quero me casar e ter filhos."

Participando de fóruns gays pela internet você sempre se depara com frases desse tipo, de pessoas que usam algum adjetivo em contrapartida a se dizer gay. Como se ser gay fosse uma "falha" a ser compensada.

Acho dificil dizer que uma pessoa é bem-resolvida ou não por causa de uma única frase. Eu já me peguei dizendo que Fulaninho Hetero é "homem". O fato é que existem certos valores socialmente construídos que acabaremos demonstrando em nossa fala até mesmo sabendo que estamos errados. Mas isso não quer dizer que deve servir como desculpa.

"Sou gay, mas não curto ambientes GLS. Não tem nada a ver comigo."

Como eu já disse em outro post não acho que ficar sempre levantando a bandeira do orgulho a atitude mais correta mas discordo ainda mais da postura "só porque sou gay não quer dizer que tenho outras coisas em comum com outros gays" porque acho difícil o convívio se aceitar completamente quando só se convive com pessoas diferentes e que muitas vezes não querem nem saber de nossas experiências pessoais sobre relacionamento e afins. Eu dificilmente considero alguém meu amigo se essa pessoas não sabe que sou gay. Se não me sinto a vontade pra falar sobre com quem me relaciono afetivamente acabo ficando desconfortável e evitando a pessoa. Mas o que fazer quando você não se sente confortável consigo mesmo? Acho que a auto-aceitação é o processo mais complicado de ser gay. Será que é possível se livrar de todos os valores culturais que absorvemos durante boa parte da vida?

Pride and Prejudice - Part two

Então eu assumo uma americanização leve. Algumas pessoas já a julgaram crônica, mas eu gosto muito do Brasil e de muita coisa na nossa cultura para concordar com isso.

Em geral, acho nacionalismo uma bobagem. Por que ninguém escolhe onde nascer, então é a mesma coisa que se orgulhar do tamanho do nariz. E tem também aquele papo de "fazer alguma coisa a serviço da pátria" que sinceramente...

Mas enfim, hoje eu estava me escravizando à cultura da beleza gay na academia e lá só passa a MTV. Então, mais um clipe de Hip Hop, reconhecível pelo homem negro não muito atraente vestindo roupas ENORMES, com correntes de ouro no pescoço, uma penca de mulheres gostosas em trajes sumários e dois ou três carros de luxo atrás.

Então eu fiquei pensando no último post do LD, nessa coisa da "cultura negra norte americana" e é claro, no Obama.

Acho que a questão começa com a ideologia estadunidense da "terra das oportunidades". Essa é a identidade nacional (como a nossa é a de ser "malandro boa-praça") e algo com o que todos lá devem conviver. Uma terra de igualdade onde todos podem fazer como Lincoln e ir de lenhador a presidente.

Mas aí, como no mundo todo, temos a população negra... a população que só deixou de ser escrava faz 144 anos. Problemas de absorção social, segregação e através da música vimos essas pessoas terem alguma representação. Uma voz mesmo. Nos anos 80, o Rap e o Hip Hop vomitaram a revolta e os protestos de quem não tinha outra forma de falar. Mas com o sucesso, veio o dinheiro, a conquista do sonho, e acabou o fermento para o protesto... restou se pavonear do dinheiro ganho, das coisas e mulheres compradas com ele. O funk teve a mesmíssima trajetória aqui.

E então, Barack Hussein Obama (cara, ele TINHA que se chamar Osama...). A eleição dele foi linda, o mundo todo torcendo e apostando numa mudança do império. É claro que a esperança tem fundamento, mas é lógico que o Bush foi fundamental para isso, né? Se não fosse tão burro, não teria tanta gente clamando por mudança.

Mas Obama é "nossa gente", esperança para negros, gays e imigrantes, assinando tratado pela igualdade de salário entre homens e mulheres e tudo. Difícil prever se ele conseguirá sustentar a expectativa global. Provavelmente não. Mas já entrou para a história só de concorrer, e ainda ganhou. Na pior das hipóteses, teremos um governo MUITO melhor que o anterior, e os jovens negros terão um modelo mais saudável do que os pimps do Hip-Hop.

Quanto a nós, continua a esperança de que as mudanças lá sejam boas para o resto do mundo e que a crise não seja tão violenta por aqui. Está muito mais difícil arrumar emprego e comprar coisas, mas ainda dá para usufruir das coisas boas da cultura americana. Há quem duvida que elas existam, mas só por anti-imperialismo mesmo. Alguém VIVE sem tomar Coca-Cola? HOW?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Orgulho e Preconceito

Sempre associei a importância de haver gays na mídia com as questões étnicas. Acho que assim como índios, árabes e asiáticos em geral DEVEM lutar por representação nos meios de comunicação de massa, a comunidade gay (ou LGBT) também merece um lugar (não-depreciativo) na mídia para se tornar “invisível” socialmente. Nem que seja com o desgaste da super-exposição do "diferente" na mídia.

Sei que atualmente existe a luta pelo reconhecimento das diferenças, mas discordo dela. Acredito que para chegarmos em um estágio de real invisibilidade é necessário que se re-afirme a igualdade já que o preconceito se baseia exatamente no que é diferente.
Não coloco os negros nessa lista dos "diferentes que devem aparecer" porque, sendo um, percebo que existe uma série de atitudes afirmativas que melhoraram (mas não mudaram) o modo como o negro é visto em nossa sociedade. Também porque vejo no discurso de orgulho racial uma forma de racismo. Discordo de como os negros norte-americanos, por exemplo, lidaram com a questão da "afirmação" da diferença. Exemplo disso são os códigos de comportamento, vestuário e fala que os distinguem.
Não estou dizendo que orgulho é uma coisa ruim. Só que não deveria ser externado num discurso que quer atingir uma integração social. Destacar as diferenças e proclamá-las com orgulho dificilmente convencerá alguém de que somos todos iguais e não há motivo para apontar dedos.

O que quero dizer com esse post é que toda e qualquer minoria que ainda não ganhou uma voz/representante dentro da sociedade deveria fazer questão de ter alguém como eles na TV, que é onde a repetição (maciça) acaba por provocar a indiferença. O que tornaria o que é "diferente" hoje em algo batido... algum dia. Esperamos...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

All about sex...



Seguindo a sugestão de nosso fiel comentarista, quero falar de sexo.

O seriado "Queer as folk/Os assumidos" (em sua versão americana e de maior sucesso), começa sua crônica da vida gay com as seguintes frases (numa tradução livre):

"O que você precisa saber é: tudo gira em torno do sexo. Dizem que os homens pensam em sexo a cada 28 segundos, mas esses são os héteros. Gays pensam a cada nove."

Não vou dizer que é verdade, mas é claro que é mais fácil dois homens saírem transando sem nem se conhecer do que um casal hétero.

Excluíndo motivações biológicas, nós somos criados para sermos predadores sexuais. Ao contrário das mulheres, aprendemos que "quanto mais, melhor" nesse quesito, e a virilidade e a potência sexual são vistas como qualidades pela sociedade.

Machismo, falocentrismo e outros "ismos" participam dessa receita, mas o caso é que "pegar geral" é parte da vivência masculina. No caso dos homossexuais masculinos, temos essa energia vindo dos dois lados, o que resulta na nossa postura mais "liberal".

Usei as aspas por que não gosto de associar esse assunto à promiscuidade. Há um peso pejorativo nessa palavra que me lembra o período medieval e um tipo de culpa religiosa que nunca senti. Acho maravilhoso que as pessoas possam fazer de seus corpos o que quiserem, desde que se respeitem. Acho que esse é o único limite válido.

Mas como sabemos, nem todos pensam assim. Nós gays temos sim uma imagem pejorativamente promíscua, que evidentemente tem lá seus motivos, mas também sua parcela de inverdade.

Temos essa associação quase doentia entre amor e monogamia. E aquela entre sexo e pecado. Acredito que a monogamia romântica, que inclui os desejos e pensamentos, seja impossível. Podemos nos comprometer num relacionamento e agir com respeito, mas é difícil acreditar que um apaixonado nunca mais vá desejar outra pessoa só por que ama alguém.

Assim, a "promiscuidade" vira o contraponto do amor romântico. Passa a ser execrada.

Pagamos com a epidemia da AIDS por esse estilo de vida, e vários salivaram com a chance de nos condenar. Mas durou pouco. É provável que qualquer doença sexualmente transmissível vá se espalhar primeiro pela comunidade gay, simplesmente por que fazemos mais sexo e com mais gente do que a população heterossexual. Mas cedo ou tarde, essas doenças fazem a ponte e passam de "praga gay" ou "coisa de puta" para DSTs tratadas pelo SUS, por que todo mundo está sujeito a elas.

Será mesmo que os homossexuais estão tão errados assim? Será que são incapazes de relações duradouras e/ou monogâmicas?

Como quase todo questionamento sobre o comportamento alheio é leviano, já que somos indivíduos, acho que não importa. Cada um sabe de si. Eu, como gay, prefiro ter satisfação sexual do que ocultar meus desejos por conceitos que no fim só me deixariam "na mão" mesmo.

Enjoy

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Não mexa com as travas!

Na semana passada tivemos aqui o Fashion Rio (sim, somos cariocas). Um dos grandes momentos do evento foi quando a travesti Patrícia Oliveira desfilou pela grife Complexo B. Tititi, bafafá, e no dia seguinte o jornal popular "Meia-Hora" fazia sensacionalismo dizendo que ela já saiu com homens famosos, designando-a pelo termo "bibinha". Na semana seguinte, o mesmo jornal falou sobre o passado da moça no pornô, utilizando o termo "traveco".

Fica claro que eu deveria ler um jornal decente, mas quero falar desse fascínio do travesti. Não diria que isso é coisa só do Brasil, mas acho incrível a posição do travesti na nossa sociedade.

No obrigatório livro "Devassos no Paraíso", João Silvério Trevisan conta a história da homossexualidade no Brasil. Nos anos 80, tivemos o fenômeno Roberta Close. Um travesti que virou símbolo sexual num país conhecido pelo machismo e pelo falso moralismo.

Falso moralismo por que a grande maioria dos clientes das travestis que vendem seus corpos nas ruas são os machões, pais-de-família, que precisam de uma figura feminina para manter sua masculinidade enquanto são penetrados.

Há muito o que dizer sobre a masculinidade e a delicada teia de atitudes que a sustenta. Por esse tipo de "construção cultural" passam os valores que fazem com que os gays passivos e/ou mais efeminados sejam hostilizados até dentro da comunidade. São valores antigos, que falam da opressão feminina até a sofisticação de se oprimir O feminino.

É como se ser homem, ser esse herói, fosse um privilégio. E nós homossexuais abrimos mão disso, nos rebaixando. Ninguém mais que os travestis, que levam essa trajetória no corpo.

Eu já me senti muito hostilizado por ser gay, mas nunca levei porrada e sempre deu para disfarçar se fosse necessário (horrível, né? Coisas dessa identidade sexual forçada, ai,ai... não deixo de reclamar disso nunca!). Mas no caso dos travestis é bem difícil. E por isso mesmo, eles estão no topo da lista das vítimas de crimes contra homossexuais no Brasil.

Muito mais hostilizados que o "gay-padrão", muitos terminam na prostituição simplesmente por que se veem na rua, sem ter o que comer ou onde morar. Claro, há casos e casos, opções... mas não dá para fingirmos que a maioria dos travestis não trabalha dessa forma. E se é assim, é por que motivo há.

São raros os casos como o de Leilane Assunção, que inicia seu doutorado nesse ano. Mas como em tudo na "vida gay", é um grande avanço.

Sobre o título, tirei desse vídeo. Se tem uma coisa que nós podemos fazer é nos divertir com a nossa cultura e fazer piada de nós mesmos.


*
Então nesta primeira semana de BBB tivemos a eliminação da moça que tinha sido indicada por voto combinado. O Pedro Bial disse que o público, que é o jogador mais poderoso do programa, se sofisticou. Tenho minhas dúvidas por que a menina faz esse estilo apagadinha que é o ideal para a primeira eliminação, mas gostaria muito se o povo finalmente estivesse pensando como eu (megalomania...), e vendo que esse jogo não é para premiar a virtude.
E que bom que o gatão entrou, né?
*
É triste, mas o meu computador está de gracinha. Então, se eu sumir, é por isso. Estou tentando salvar os meus arquivos para tentar formatar, mas começo a achar que não existem DVDs o suficiente para tanta pornografia... oh, céus!
*
E vamos aplaudir a estréia do Literatum aqui no blog! Eu ainda estou tentando puxar uma amiga hétero para cá, para dar um ponto de vista feminino (daquele tipo de mulher diva que tem vários amigos gays...), mas temos agora essa colaboração cultural, sempre com dicas valiosas de filmes, livros, artigos e coisas legais. Os homens, deixa que eu recomendo, a não ser que seja num daqueles livros bonitos da Taschen.

Aliás, a minha recomendação de filme e especialmente de livro é o clássico "...E O Vento Levou". Não temos nada gay ali, mas uma mulher forte que supera tudo e ainda se veste com as cortinas para seduzir um cara tem o seu apelo. E o livro é bem legal.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Les Chanson d'Amour (2007)


Como nem só em inglês se traduz o mundo... como primeira sugestão nesse blog recomendo esse simpático filme francês de Christophe Honoré (roteiro e direção), Les Chanson d'Amour (Canções de Amor).

Esse filme só estreou nos cinemas brasileiros no fim do ano passado, mas eu só pude vê-lo no cinema em janeiro graças a um sala de cinema atrasadinha que ainda continua exibindo.

Eu queria muito falar do filme, sinopse essas coisas que você acha no google, mas quando eu procurei não achei nenhum resumo que enquadrasse o filme realmente e eu não quero falar muito do filme porque é dificil sobreviver a expectativas...

Portanto nesse primeiro post serei vago. Direi apenas que... é um filme francês (isso inclui nudez, menage a trois, refererências a livros, amoralismo e ruas de Paris).

Também direi que é um musical como sugere o título. Não um musical onde até os bom dias são cantados, mas sim que ouvir a trilha sonora é reviver o filme... e que existem "clips" no youtube. Aconselho "Delta Charlie Delta" e "As-tu déjà aimé ?".

E se você está mais interessado nas beldades vale a pena conferir: Louis Garrel, Ludvine Sagnier, Clotilde Hesme e Grégoire Leprince-Ringuet.

Se você não se interessou por nada do que eu disse me diz algum livro ou filme favorito que eu procuro algo que possa agradar....

sábado, 17 de janeiro de 2009

Opção. Um Privilégio ?

Não, não vou retirar nada do que disse. E já não tenho mais nada pra falar sobre o que não merece ser mais comentado. Como a próxima novela é um novo atentado a cultura alheia, acho que a a Record, se for esperta, tem chances de reverter alguns números.

Mas, mudando de assunto...

Há mais de 5 anos todo mundo aqui de casa sabe que sou gay. A minha irmã foi a última a saber e mesmo assim só porque minha mãe falou e a que mais chorou, talvez por ser a que tem maior fervor religioso aqui em casa...

Passados mais de 5 anos minha mãe agora me pergunta sobre o meu namorado, se não vou sair com ele se passo o fim de semana em casa, só não fala nada de querer conhecer ou de eu trazê-lo aqui em casa, mas atende bem no telefone e tudo. Agora a minha irmã... uma futura socióloga, o que implica dizer uma estudante das ciências sociais, quando vê o nome do meu namorado na bina só atende o telefone se eu não puder atender, caso contrário me chama pra atender.

Depois de tanto tempo ela ainda, vez ou outra, fica lembrando de garotas que eu já gostei - na época, pra mim, achar a menina bonita ou legal era gostar - e não perde a oportunidade de falar em opção sexual. Agora pergunto, como uma pessoa pode pensar uma coisa dessas? Será que ela acredita que existe alguém capaz de escolher de que pessoa vai gostar ou se envolver? E se pessoas como ela acham mesmo que todo gay escolhe com quem vai se envolver, teriam elas inveja por esse "privilégio"? Talvez isso explique o des(res)peito contido em piadinhas e comentários maldosos.

Eu realmente não entendo. Será que sou só eu que percebo que essa geração (18-22 anos) é bastante conservadora? Falo isso porque sempre ouvi falar que as pessoas que cursam Letras, Filosofia, Ciências Sociais, Artes, Publicidade, Jornalismo e Teatro eram as pessoas mais mente abertas e talz. Então por que quando tive contato com algumas tantas pessoas desses cursos a maioria delas não perdiam oportunidade de fazer piadas homofóbicas? Falta de sorte minha? Não estou generalizando, conheci exceções e sou grato por elas, mas não tenho como não perceber que a grande maioria se intitula moderninho mas são tão retrógrados quanto não deveriam ser...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Ô, vício!

Sorry, mas vício é vício. Eu disse que ia encerrar o momento novela no último post, mas não tem como não comentar o último capítulo, né?

Não amei não, pois acho que a Flora merecia um final mais hollywoodiano, com um clímax mais doidão. Mesmo que ela terminasse presa e tudo, a cena lá na casa poderia ter sido melhor. Ela tentando roubar o helicóptero, sei lá...

Mas para a preocupação do meu amigo LD, parece que a novela não terminou tão "A Moralista" assim. Não sei se eu precisava que ela a agarrasse e beijasse, mas não me pareceu que a Flora fosse apaixonada pela Donatela. Claro, ela é doida pela irmã de criação, mas não necessariamente apaixonada.

Assim, evitamos uma demonização da (homo)sexualidade feminina. E isso é ótimo, ainda que eu anseie por vilões gays (na verdade, podem ser mocinhos também, só quero alguém com importância e que não levante a bandeira). No caso da Stela e da Catarina, terminamos com a sugestão de que poderia mesmo rolar algo, de uma forma bem escrita e especialmente bem interpretada pelas atrizes. Gostei bastante.

Não gostei do Léo ser o pai da neta. Tudo bem, isso existe, mas achei pesado e desnecessário para último capítulo. Acho que essas coisas mais hardcore só servem se for para levantar o debate, e mesmo com ele sendo tão violento e doido, o lance do abuso da filha não foi desenvolvido. Acharia mais interessante que esse pai não fosse mostrado, o que valida ainda mais a paternidade do Shiva, que não sabe quem é seu pai biológico.

Enfim, a novela acabou e é o que é. Um produto para a massa, que mesmo não podendo, tenta agradar a todos. Não dá para fingir que os autores e atores são livres para fazer qualquer coisa, quando o público tão vasto interfere tão diretamente no desenrolar das tramas. É parte do gênero, não dá para mudar.

E prometo não falar (muito) de Caminho das Índias. Só acho que deviam bronzear o povo, que a Juliana Paes é a única morena na família.
*
Seguindo com a programação, é tempo de BBB. Eu adoro esse programa muito mais pelo que ele provoca fora da casa. Acho incrível como o povo se revela moralista, sequioso desse poder de eliminação, irritadiço. Basta uma coisinha não ficar 100% explicada, e todo mundo vira bicho.

Eu, que sou uma pessoa muito calma (preguiçosa), não me estresso. No primeiro dia dessa edição, criaram caso por que não explicaram os critérios da seleção para a casa de vidro. Pra mim, estava claro. O programa tem um diretor, quem manda é ele.

Logo começam as jogadas, e aí o povo vai começar a querer eliminar "a falsa", o "jogador", elegendo vilões e mocinhos para fazer do programa uma continuação da novela. Isso sempre me intrigou, por que por melhor pessoa que alguém seja, duvido que não vá jogar, combinar voto, mentir, formar grupo... para ganhar um milhão. Sem contar que nunca disseram que não era para fazer nada disso. Muito pelo contrário.

Eu falo logo. Me joga lá pra ver se eu não faço de um tudo pelo dinheiro. Claro, tentando disfarçar, por que fico vivendo esse paradoxo de tentar ser sincero com meus sentimentos e opiniões, mas sem viajar completamente e esquecer do mundo em que vivemos. Assim, os participantes são obrigados mesmo a "entrar numas".

Mas acho que o povo devia era tomar vergonha e não ficar julgando os outros. Será que o lance de ser "minoria"? Hahaha...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Pura Utopia...

Então, para tentar concluir o grande e obsessivo arco sobre "identidade-invisibilidade-novela das oito", resolvi comentar sobre o nosso primeiro comentário "externo".

Homem Inteligente Viril disse:

"O simples fato de existir esse blog, já é a necessidade do gay (no caso vocês) de não estarem na INvisibilidade, o gay de hoje, pelo menos a maioria não está atrás de invisibilidade, quer aparecer, mostrar a cara, mostrar que é diferente, escrever um blog ... Um hetero não teria o que escrever, se quisesse escrever sobre sua heterossexualidade ... Ele tem a genuina INvisibilidade."

Achei engraçado por que eu pretendia falar sobre isso quando "A FAVORITA" finalmente acabar, para fechar logo esses assuntos. Eu sou um obsessivo assumido, apaixonando-me perdidamente por certos assuntos, e aí fica difícil não ficar repetitivo... Como os questionamentos midiáticos do LD casaram com isso num diálogo, essas nossas primeiras duas semanas giraram sobre esses tópicos, e agora é a hora de partir para o que realmente importa: o BBB!

Mas enfim, quem conseguiu entender os meus clamores nos posts sobre o assunto, viu que o que eu acho curioso e também injusto é a rotulação baseada em sexualidade. Na minha utopia, há a INvisibilidade sexual para todos, pois ser gay ou hétero é algo tão involuntário quanto ser bonito ou feio, carioca ou paulista...

Se não existisse "o gay" como selo de identificação, esse blog não existiria (tá, eu podia dividir um blog com um amigo sobre algum outro assunto... mas vocês entenderam), e não existiria a "cultura gay".

Mas a questão é que existe, não importa o quanto eu queira lutar contra isso. Discordando do meu parceiro, eu acredito que a simples existência da parada gay, ainda que fosse uma orgia ao ar livre sem sentido, já é política. Já traz a visibilidade que a "comunidade" sempre buscou como forma de representação política.

Criaram um "dia do orgulho hétero", como forma de gozação do dia do orgulho gay. Não acho que ninguém deveria ter orgulho de ser uma coisa ou outra, mas discordo do nosso comentarista sobre a impossibilidade de um blog de "cultura hétero". Sempre que nos debruçamos sobre um nicho, por maior que seja, aparecem questões próprias.

Existem blogs gays, blogs feministas, blogs sobre futebol, blogs de religião... só não existem blogs sobre heterossexualidade (e deve existir algum, nem me dei ao trabalho de procurar) por que a maioria dos heterossexuais não é obrigada a se identificar como tal.

No caso do homem, a masculinidade é uma coisa constituída a partir de valores culturais. É preciso ser homem, e um dia falo disso com calma. Mas ainda assim, nenhum homem precisa dizer que é hétero. Só que se ele se "desvia" da conduta masculina, acaba sendo identificado involuntarimente como "gay".

Pode ser que eu, o LD e os outros gays do mundo tenhamos o desejo de nos expor. No meu caso, acho que um desejo de mostrar o meu valor apesar dessa "falha", o que é um loucura construída pela minha criação, tabus e vitimização. Mas não posso falar pelos outros. O caso é que falar é só uma opção. Nós já fomos expostos. Já somos visíveis.

Sobre a novela, apesar das declarações, para mim não está explícito que a Flora seja apaixonada pela Donatela. "Eu te amo" é uma coisa, e ela ter amor, paixão e desejo carnal por ela é outra. Caso se comprovasse a hipótese lésbica, seria um passo adiante rumo ao meu ideal. Teríamos um homossexual cuja sexualidade não foi seu estandarte, e que foi significativo na trama sem debater os "assuntos gays".

Ainda assim, essa opção só seria possível pela revelação tardia, já que o público talvez não suportasse uma relação gay como tema central de uma trama, e talvez os grupos de militância gay não permitissem que uma vilã tão doida fosse assim por esse motivo... Ainda há muito o que caminhar, e muitas vezes eu acho que não passa mesmo de utopia. É impossível agradar a todos, então nunca teremos uma novela que fale da homossexualidade agradando a gays e donas de casa católicas.

Resta esperar que a NOSSA invisibilidade um dia venha. E quem sabe então esse blog não passa a ser só sobre opiniões...

sábado, 10 de janeiro de 2009

A Moralista, uma novela da bisávo de JE Carneiro

Acabei de ler uma coisa na internet que me motivou a falar novamente sobre A Favorita...

Estou muito desapontado com os desenlances dessa novela que acho que deveria ter o nome mudado para o do título. Como se não bastasse o gay-fiasco agora temos uma série de outros exemplos que me fazem pensar que o autor é na verdade a bisavó de alguém. E é com base na moral de 1920 a.C. que eu faço algumas "previsões" para o fim da novela. Esperando seriamente que eu erre na maioria.

1. A adúltera da novela depois de ser humilhada em praça pública, ser execrada pela cidade onde vive, quase ser estuprada por ser considerada... fácil. Teve o fim que dita a moral, ou seja. Depois das humilhações físicas e morais, ela ficou louca (porque pra cometer adultério a pessoa deve ter algum problema mental) e gravemente doente de não sei o que (algum mal do espírito diriam alguns) e morreu. Sem antes é claro de pedir perdão ao seu marido e seu amante por ter destruído a amizade dos dois, como se ela tivesse estuprado o amante, e ele também não tivesse suas obrigações de amigo do corno;

2. O homossexual é retratado como alguém confuso, que não sabe o que quer da vida e pode mudar de """opção""" depois de "provar" do sexo oposto. Como é o caso do Orlandinho. Ou uma pessoa que joga veneno para converter os outros para "novas experiências" como é o caso da lésbica Stela que está tentando persuadir a honesta Catarina. Como matar a personagem Stela vai ficar muito na cara aposto que ela vai se arrepender e sair da cidade - deixando o restaurante para a Catarina - acompanhada de um homem gentil. Porque pra algumas pessoas mulher só vira lésbica porque sofreu muitos abusos masculinos.

3. O que eu li na internet foi boatos de que o real motivo para obsessão da Flora é uma paixão reprimida pela Donatella. Nem vou mais falar nada...

Eu sei que louca ela deve ficar porque gente má só pode ser louca também. Não tem culpa do que faz. Deus não fez pessoas tão ruins, e a loucura é coisa do demônio, sabe como é...

Novamente... espero ter que vir aqui retirar o que disse mas acho difícil que a pessoa que escreva as ótimas falas da Flora seja a mesma responsável por toda a novela. Se bem que existem os loucos...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Denise, a que fala como um gay jovem

Não sei se todos acompanham os quadrinhos da Turma da Mônica, eu não acompanho os quadrinhos... clássicos mas comecei a comprar a versão mangá Jovem e nesse número cinco - o atual e o mais simpático até agora - eis que me deparo com a personagem Denise, que fala todas as gírias dos jovens gays. Não dei muita atenção para isso pois achei que era implicância minha e creditei essa fala por achar que ela era a personagem patricinha.

Na terça, falando com uma colega estagiária, que me disse acompanhar os gibis clássicos da TdMônica perguntei sobre a Denise e ela me contou uma história engraçadinha da personagem que pode ser conferida na wikipedia específica. Mas o que mais me chamou a atenção na versão dela é como ela classificou o jeito da Denise falar: "Quando a Denise começou a falar igual à um TRAVECO é que ela ganhou mais destaque!".

Pronto, já tenho uma nova personagem favorita: a Denise. Tá bom nem é pra tanto, mas ela é BEM engraçada. "A Loka". Agora estou até mais interessado nas amizades da Denise, porque ela não pegou esse linguajar do nada não é verdade? Deve ter um roteirista viadíssimo só pra fazer as falas dela. Porque é realmente impressionante. Se uma pessoa hétero que nem reconhece um gay quando vê (moi) percebeu a fala dela como estereótipo de fala gay é porque ela não é simplesmente patricinha, é uma Diva (ou fag-hag, mulher amiga de gays em inglês) .

Se você realmente não conhece o universo da Turma da Mônica não deve saber que a equipe do Mauricío de Sousa se empenha em incluir todo tipo de difernça, então tem personagem de tudo quanto é fenótipo. E como gay não tem lá um fenótipo específico... nunca teve um personagem gay ou lésbica.

Agora pergunto se a Denise é:
a. só uma personagem engraçada com fala caricata
b. um jeito que a equipe do Maurício encontrou para que gays tivessem com quem se identificar
c. como agora existe a versão jovem (não mais criancinhas) através de uma Diva como a Denise um personagem gay poderá surgir?

Eu torço pela C obviamente. E se alguém já leu a edição da Turma da Mônica Jovem #5 vai saber que se for um menino gay ele deve se interessar pelo Titi. Se eu chegar a descobrir a resposta eu comento sobre.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

All dolled up...

Nessa semana um amigo me mandou este link, que me deu muito o que pensar.

Caso alguém morra de preguiça de ler, é o relato de uma mãe que teve que pensar no que fazer quando o filho de sete anos pediu uma boneca. Para mim, o interessante foi ela ter se visto forçada a confrontar as próprias opiniões, já que é muito fácil ser "descolado" quando a questão não é com o seu filho. Para mim, o final foi feliz, já que ela bancou suas próprias opiniões e deu a boneca, deixando o menino que ama feliz.

Eu me lembrei da minha infância, e da minha verdadeira loucura por bonecas. O LD falou da Chun-li no seu último post, e de como ela representa um identificador para nós, mas acho que dá para incluir aí a figura da boneca. Especificamente, temos a Barbie, mas a questão é que carrinho e bolas são para meninos, e bonecas, sejam quais forem, de meninas.

Quando eu era criança, queria por que queria uma Barbie. Eu gostava muito dos meus bonequinhos do He-Man, mas eu queria uma Barbie e pronto. A minha mãe, embora seja maravilhosa, não era tão modernosa nos anos 80, então eu só consegui ganhar uma quando já era quase adolescente.

Ela me comprou um livro chamado "Menino Brinca de Boneca?" e eu adorei, pois o livro não mostrava isso como uma coisa terrível. Aí ela disse que "o livro não era o que ela esperava", e acho que foi aí que eu comecei a pensar por mim mesmo.

Claro que quando eu era criança eu não sabia que era gay. Sabia que era diferente, mas isso por que os outros me diziam isso. Mas naquele momento, eu vi que a minha mãe não era uma super-heroína e que os adultos não sabiam de tudo. Vi que ela estava buscando ajuda, e que tinha sido boba o suficiente para me dar um livro sem lê-lo. Achei ótimo, pois o livro tinha uma mensagem tolerante, então ela acabou me educando melhor, mas não era o que ela queria... e essa distração me fez ter mais autonomia.

Hoje, ela e todo mundo sabem que eu sou viado. Talvez eu não escolhesse ser assim, mas tem muitas vezes em que eu acho que escolheria sim. Mas não acho que foi por causa de um brinquedo, né?

Talvez eu nunca me interessasse por bonecas se já não fosse me tornar homossexual, mas essa atribuição insana de valores às coisas é ridícula. Acho que brincar de boneca tem um enorme apelo para qualquer criança... no caso da Barbie mesmo, era muito legal reproduzir a vida, com carros, casas. Na época ela não era tão fantasiosa quanto agora, que tem muitas fadas e princesas... a fantasia ficava nos brinquedos da Disney e nos de meninos, já que o He-Man era um bárbaro tecnológico de outro planeta.

Me lembro também de uma cena que testemunhei numa loja de departamentos, quando lançaram aqueles bonequinhos dos Power Rangers. Bonecos de menino, e eu escutei um pai dizendo que não ia comprar os cinco bonecos para os filho por que dois eram mulheres. Como assim? Não dá para ficar tirando onda de Freud, mas talvez seja exatamente o tipo de experiência traumática que faria o menino entrar em choque com a sexualidade dele. É muito brutal esperar que uma criança, que só quer brincar, absorva preconceitos sociais.

Enfim, fiquei comovido com a história dessa mãe. Espero que todas as crianças possam, um dia, ter uma infância assim. Livre de preconceitos. No fim das contas, todo mundo se torna o que tiver que se tornar, então o legal é ser feliz. Sempre.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Drama Queers

Terminando o arco com o Orlandinho e a (in)visibilidade, quero falar especificamente sobre o homossexual na TV. Neste último sábado, a GLOBO exibiu “Brokeback Mountain”. Gostem ou não dele, é inegável o valor desse filme para a Comunidade Gay. Nunca antes um filme com temática homossexual conseguiu tanta atenção, tendo boas chances de levar um Oscar de melhor filme, e terminando com o de melhor diretor para o Ang Lee. Por fim a Rede Globo o exibiu e sem cortes. Vimos na tela do plim-plim um beijo gay e uma ótima cena de sexo também.

Pois é. Já faz anos que Jefferson e Sandrinho se assumiram, com muito estardalhaço e poucas cenas. Agora, TODA novela tem pelo menos um personagem gay. Andamos muito desde as lésbicas explodidas em “Torre de Babel”. Só que mais uma vez me vem o incômodo da (in)visibilidade.

O Nelson Rodrigues é o que é por ter exposto a moral da “Família Brasileira”. É o velho jeitinho. Tudo pode, desde que ninguém saiba. E assim, o desfile de personagens gays nas novelas, nossa maior vitrine cultural, tem uma imagem esterilizada. Politicamente correta. Mas será mesmo?

É muito difícil agradar todo mundo, claro, e sabemos que os grupos de militância gay não gostariam de nos ver representados exclusivamente como seres promíscuos e efeminados (no caso dos homens). Mas me incomoda que os gays nas novelas sejam sempre casais estáveis, monogâmicos, limpinhos, bonzinhos, bonitinhos... Fica um tabu de que aquela personagem, por ser gay, é só gay. Esta é sua única função. E de certa forma, essa “deficiência sexual” é compensada com uma postura corretíssima.

Nossa grande novela é a de quando teremos um beijo gay. Acho importante. NUNCA tem beijo, pois isso pode chocar as famílias, em especial as crianças (ODEIO essa idéia de que criança é burra). Chocar com o que? As mulheres mostram peito, bunda, todo mundo fala palavrão, os beijos são verdadeiros chupões, todo mundo transa horrores, rouba, trai a mulher, mata. Tem gente que abandona neta com síndrome de down, vende o neto, pai que manda seqüestrar o filho, sem falar na GLOBELEZA que é o Carnaval. Toda uma sorte de coisas maravilhosas que não chocam as crianças que, é claro, morreriam se vissem dois homens se beijando.


Repito, não dá para agradar todo mundo, e é o próprio preconceito da comunidade que faz com que os novos gays da TV nunca dêem pinta e que acabem refletindo um ideal de casamento hétero que sequer existe. Existem, sim, gays extremamente efeminados e muitos são como aquela imagem que os héteros têm sim: promíscuos, incapazes de relações estáveis... vários não são cultos, refinados, limpos e bem cuidados, como parece ser o chavão do GAY CHIC. Enfim, muitos são muito HOMENS, nesses quesitos que irritam as mulheres. E claro, existem esses casais, como os representados. Qual é o problema? Todo mundo é livre, todos deviam ser como quisessem. Não quero soar moralista, por que não sou meeeeesmo, mas um dos especiais de fim de ano da Globo foi o “Aline”, onde uma menina tinha dois namorados. Não vi ninguém protestando. E se os dois garotos tivessem resolvido se pegar?

Acho que deviam, se é isso que querem,mostrar a vida gay como um todo. Esses personagens são O CASAL GAY, quando se existisse REALMENTE visibilidade, respeito e aceitação, o vilão poderia ser gay. Ou a mocinha, o ladrão, o padre... enfim, qualquer personagem, já que a sexualidade, se é aceita, não deve ser um agente definidor das pessoas.

Tenho certeza que essa representação já ajudou muita gente a refletir sobre a vida gay, a aceitar mais facilmente um filho gay ou a se reconhecer como tal. Mas eu acho muito engraçado que exista um personagem gay sem que exista um personagem hétero. Tá bom, tem o personagem gay e todos os outros são implicitamente heterossexuais e não adianta fingir que na nossa sociedade já existe uma aceitação geral e irrestrita da homossexualidade. O caso, é que ser gay se torna uma função.
É claro que existem questionamentos que só a homossexualidade traz, e a grande maioria tem um potencial maravilhoso a ser explorado na dramaturgia, mas a maior luta de qualquer “minoria” é por igualdade, e para mim isso só seria possível com invisibilidade. Invisibilidade no sentido de aceitação mesmo. A “visibilidade” como conquista do Orgulho Gay é muito importante, pois mostrando que estamos aqui fazemos com que nossas questões entrem em pauta e sejam pensadas. Mas o certo era sermos invisíveis também. Sexualidade não devia ser função ou cartão de visita. O Gore Vidal é um dos que falam sobre isso.

Na novela, temos o vilão, a mocinha, o herói e o personagem gay, da mesma forma como tínhamos na escola o gordinho, o CDF e a bichinha. Eu adoraria ver um casal gay como protagonista de uma novela, ou um grande vilão dando pinta de forma maquiavélica. Isso por que “o personagem gay”, quando exerce qualquer função, em geral é a de “ser gay”. De falar desse problema, do preconceito, ou das plumas e paetês. Só que o vilão só precisa ser mau e nada mais. Ninguém está questionando a sua sexualidade - o que automaticamente implica em heterossexualidade - e por isso ele pode exercer sua função na trama como um personagem de peso.

Volto a dizer, não dá para fingir que gays passam pela vida sem serem o tempo todo confrontados com sua sexualidade, mas acho que essa especificação numa novela acaba denunciando como essa “diferença” é definidora.

Mas enfim, vamos esperar que um dia os personagens gays sejam algo mais do que são. Ou que existam "personagens hétero". Tipo isso mesmo, alguém que não faz nada, só é hétero e pronto, sem ter outra preocupação na vida.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Orlandinho, o Gay-Fiasco da vez

Identificação cultural é algo muito engraçado. Acho que foram os detalhes que me diferenciavam quando criança que acabaram se tornando os pontos de afinidade que procurei em meus amigos.

Um exemplo (besta) foi o fato de eu gostar de jogar com a Chun-Li (a lutadora azul na imagem acima) no jogo Street Fighter. Como ela era a única lutadora, no primeiro jogo, os meninos aqui do prédio a achavam a mais fraca enquanto eu achava a mais legal. Depois veio outra lutadora que eu acho ainda mais legal... Por um bom tempo essa minha preferência pelas lutadorAs me fez diferente dos meus amigos e vizinhos. Isso e o fato de eu ser o único a parecer pensar que o Ryu era, digamos... interessante.

Posteriormente, quando comecei a fazer meus amigos gays - já que o fato de sê-lo não foi visto por bons olhos pelos meus, então, amigos e vizinhos - percebi que muitos deles também gostavam de jogar com a Chun-Li. Parece bobo, mas não se sentir tão diferente pode ser bem legal.

Como a Chun-Li, existem outros ícones gays. E me desculpem o arco-íris, a Judy, ou o Tom of Finland, mas quem foi ao show da Madonna sabe o que eu to dizendo. Haviam héteros, claro. Mas a pluralidade de gays que estavam no show era impressionante. Todo mundo conhece o arco-íris mas nem muitos estão dispostos a pagar algo pra tê-lo perto de si; Infelizmente a maioria nem conhece a Judy Garland; os desenhos do Tom todo mundo que já procurou pornografia gay na internet já viu mesmo não conhecendo o autor, mas a Maddy - sendo o ícone POP que é - movimenta multidões e milhões.

Mas não é disso que eu quero falar. Não sei se todos assistem TV aberta, mas quem assiste a novela A Favorita já deve ter tido o desprazer de conhecer o gay-fiasco da vez. O Orlandinho. Quem viu a novela desde o ínicio sabe que ele teve a chance de ser um personagem gay interessante. Ele não demonstrava nenhum interesse pela iconografia gay até se "auto-denominar" um. Depois disso ele se esforçou em gostar de fashion weeks e balett, acreditando que isso o tornaria um gay legítimo. Como se existisse tal coisa. Eu ainda não conheci alguém que se encaixasse totalmente nos estereótipos explorados pela mídia.

O que quero dizer é que o autor João Emanuel Carneiro ao tentar fazer algo "moderno" como, talvez, a bissexualidade, perdeu uma chance primorosa de dizer que nem todo homem gay gosta de Madonna e divas pop. Alguns gostam de MPB, futebol, política, pagode, micareta, religião ou simplemente não tem nenhuma obsessão específica. O Carneiro desfez toda a pouca conquista de outros gays-fiasco, abrindo margem até à possível interpretação de que gays são na verdade pessoas confusas que ainda não encontraram um pessoa do sexo oposto sexualmente experiente (que nem foi o caso da "prostituta" Céu) capaz de dissipar as dúvidas e torná-los homemns héteros de respeito e pais-de-família.

Como a novela ainda não acabou eu ainda não estou com meu julgamento fechado sobre o assunto, mas acho difícil aparecer um homem que tasque um beijo no Orlandinho e o faça acordar desse sonho de dona-de-casa conservadora. É, conheço o caso de algumas mães dizerem pra seus filhos gays que irão contratar uma profissional do sexo para curá-los.

Agora faz favor, né? Carneiro, ACORDA, olha pro lado que na Globo tem muita gente pra você fazer laboratório antes de escrever tal sandice.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

I am, you are e nós também...

Eu tenho uma certa birra com as "coisas gays". A "comunidade", os cabeleireiros, a Madonna... Isso não por falta de identificação - pois eu comecei a me perceber gay por essa identificação cultural mesmo - mas por que acho estranho mesmo.

Sexo todo mundo faz, mas quando se é homossexual, a sexualidade corre o risco de virar identidade, muitas vezes não por iniciativa própria. Heterossexuais não passam por isso, a sexualidade é aquela e pronto, está implícito.

Então temos a "comunidade gay". Milhões de pessoas que se identificam como um grupo e que lutam por direitos, unidas simplesmente pela prática sexual. Porque pode até ser que a maioria dos homens gays tenham uma diva ou bom gosto para moda, ou que grande parte das mulheres gays goste de tocar violão. Estereótipos existem por algum motivo... mas no fim, tudo se resume ao sexo. E aí o povo quer tirar onda de bicha engajada dizendo que as paradas gays não são mais um ato político, e sim uma grande pegação pública e sem sentido. Como se não fizessem...

Acho isso uma bobagem. A visibilidade está naquela multidão, e o caráter de festa é natural, pois dificilmente juntaríamos tanta gente se fosse para ouvir discurso. Sexo na rua, temos aí as micaretas e o carnaval para mostrar que não é "coisa de viado". Deixemos a política para os primeiros carros e os organizadores... se tem sacanagem, é por que no fim das contas é o sexo que une todo mundo ali. A Madonna e a Britney são mais uma coincidência.

E se fosse para conquistar igualdade de direitos, a luta deveria ser por invisibilidade, que é o que têm os heterossexuais. Igualdade seria ninguém questionar com quem você faz sexo, independente dos seus outros traços culturais. Não fazer disso a sua identidade.