quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

DPA - Demonstrações Públicas de Afeto

Sempre me impressiona como as pessoas ficam "liberais" durante o carnaval. Elas se (a si e aos outros) permitem ser e fazer coisas que seriam, no mínimo, inadmissíveis em qualquer outra época do ano. E não estou falando somente dos blocos de piranha onde homens transvestidos se esfregam (mesmo!) em outros livremente pela rua. Falo também do seio de fora, sexo bom-samaritano style entre outras coisas.
Nesse carnaval, voltando pra casa de metrô escuto um senhor falando como no carnaval "tem de tudo" e as pessoas perdem a vergonha. "Tem até casal gay se beijando na rua". E no dia seguinte, novamente no metrô passa por mim e um casal de amigos um vagão onde um casal de homens (e não garotos) gays estavam aconchegados um no outro sem nenhum constrangimento exterior.
O que eu achei a coisa mais fofa do mundo pro meu casal de amigos pareceu algo um tanto absurdo. Já discuti bastante com um deles sobre o assunto do título e sempre achei que quando tivesse um namorado não ia ficar com vergonha de DPA. E realmente não tenho, mas não contava com o medo que eu sentiria da reação das pessoas. Simplesmente não consigo. Fico com medo por ele e por mim que podemos ficar marcados na cabeça de um maluco que pode querer fazer alguma coisa quando estivermos sozinhos. Já que o Rio não é tão grande assim e costumamos frequentar sempre os mesmos lugares.
Roubamos beijos nos cinemas e em lugares públicos quando achamos que não tem ninguém por perto olhando, mas se tem muita gente perto eu não consigo. Pode ser pelo fato de eu ser tímido e na minha família abraços só são trocados em aniversários e comemorações de fim de ano. Mas o fato é que eu não consigo. Mesmo no carnaval.
Fico me perguntando se eu deveria deixar esse medo de lá em nome das coisas em que acredito, mas acho que isso ainda vai demorar...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Bi the way...

Um homem da Grécia Antiga tinha como dever "cívico" casar com uma mulher (havia imposto para homens solteiros depois dos 40) e procriar. Para a mulher só existia o papel de esposa e mãe. Era permitido ao marido manter relações sexuais com outros homens, prostistutas e qualquer pessoa que não fosse a esposa de outro. Lembrando que nessa época não existiam rótulos como hétero ou gay.

Como as mulheres não eram criadas para serem intelectualmente interessantes, sendo consideradas seres menos racionais que o homem não é de se espantar que os homens preferissem passar mais tempo com outros homens e surgisse algum tipo de atração entre eles. Isso sem falar que fazia parte da educação do jovem grego ter relações (nem sempre sexuais) com outros homens. A pederastia.

Mas o fato de eles serem casados com mulheres, terem filhos e se envolverem com outros homens faria deles BI?

Isso é algo que venho me perguntando ao pensar nesse post. Eu NÃO acredito em bissexuais. Não estou excluindo a possibilidade de existerem, mas simplesmente não acredito porque entendo a sexualidade humana como algo indissociável da afetividade. E não conheço muitas pessoas que tenham atração física e emocional por ambos os sexos igualmente. Sei que o termo não inclui igualdade de atração, mas não acho que uma pessoa possa se definir "bi" se só namora homem ou mulher.

Até porque eu poderia muito bem escolher uma garota que eu ache linda, legal, poderosa e diva que estivesse interessada em mim, tomar um viagra me encher de preliminares e masturbação, penetrá-la e chegar a gozar e não acredito que isso faria de mim BI. Ou faria?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

" A bissexualidade dobra imediatamente as suas chances de um encontro no sábado a noite"

A frase é do Woody Allen.

No próximo dia 20, às 22:15, o Multishow vai exibir o documentário "Bi the way", sobre bissexualidade, na faixa "Pensa nisso". Vamos pensar?

Tenho que começar dizendo que concordo com a frase do título, e com todo o tesão que sinto por homens, lamento muito não ser bi.

O filme fala sobre uma mudança na sexualidade americana, focando numa geração que se sente livre para transitar entre esses papéis sexuais e experimentar. Pode ser leviano falar nisso como uma mudança em geral, já que os entrevistados representam uma parcela da população, e não "uma geração". Mas é bom ver que alguns jovens se sentem confortáveis para falar nisso abertamente.

De minha parte, vivi isso de algumas formas. Quando criança, me senti pressionado a "escolher um lado", e terminei me identificando como homossexual por uma série de fatores além da atração sexual por outros homens. Mas sempre pensei que seria mais divertido ser livre para ficar com quem quisesse, e até hoje, ainda tenho esperanças de não ser tão "quadrado" assim.

Quando me sinto atraído por mulheres, geralmente é por motivos subjetivos como "cabelos bonitos", "star quality", "um riso franco" ou "breathtaking beauty". Nunca é algo sexual como no caso de mamilos masculinos e um bom volume no meio das pernas... no fim, meu envolvimento com mulheres sempre se deu pela amizade, mesmo quando cheguei a ter alguma intimidade com elas. Mas não foi ruim.

Quando era mais novo, vi minhas amigas experimentarem ficar com meninas, gostarem, fazerem disso uma fase e uma até virou lésbica. Acho maravilhoso que na nossa sociedade machista e falocêntrica a preocupação em "construir machos" seja tão grande que deixe as mulheres livres para se sentirem seguras de sua identidade feminina, mesmo quando estão beijando uma amiga.

É muito mais fácil para uma moça beijar uma amiga, gostar, até transar e depois voltar a namorar um rapaz do que para um menino. A masculinidade é tão frágil que não permite o contato entre os homens, e mesmo as grandes amizades masculinas evitam beijos e abraços. É uma pena... muitos se privam de experimentar e viver relações interessantes por conceitos sociais questionáveis.

Aí, agora, temos uma geração mais modernosa, onde algumas coisas são mais fáceis... repito, não dá para generalizar, mas tenho esperanças de que mais e mais garotos se sintam livres para dar ao menos um beijinho naquele amigo bonitinho, e quem sabe no futuro mais e mais pessoas se identifiquem como bissexuais?

Dando uma de Literatum, vou indicar uma leitura. "A invenção da Heterossexualidade", de Jonathan Ned Katz (Ediouro, 272 páginas). O livro fala sobre a invenção do termo "heterossexual" e como as relações sexuais foram definidas faz pouco tempo por ele, apesar de ele ter sido aceito como norma. Há um pouco de Freud, de Richard von Krafft-Ebing e um prefácio do Gore Vidal. Tem a história da homossexualidade, da heterossexualidade, e discussões sobre todas essas distinções, questionamentos e afins. Muito bom mesmo.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O Terceiro Sexo

Semana passada minha mãe foi a um show numa quadra de escola de samba e me contou depois como o lugar estava bonito e decorado. "Tinha até banheiro para o terc.... GLS".

Para quem não sabe, "terceiro sexo" é um termo que remonta a um mito narrado por Platão sobre a história das almas gêmeas que diz que no início do mundo havia três sexos que eram como "siamases": os homens, as mulheres e os andróginos. Um dia, Zeus, irado pelo comportamento dos seres humanos, dividiu-os ao meio. Os primeiros se tornaram os homens gays, as segundas as lésbicas e os andrôginos (ou hermafroditas) se tornaram os heterossexuais. E seria por isso que estamos todos destinados a procurar nossas metades.

História bonitinha, né? Mas mesmo depois de ter sido usado como um argumento de defesa da homossexualidade para teóricos da sexualidade humana como Karl Ulrichs, o termo se desvirtuou. E passou a ser usado por homofóbicos para defender exatamente o contrário.
O que algumas pessoas querem dizer quando citam "Deus fez o homem e a mulher" é afirmar que esse "terceiro sexo" não foi criação divina. Alguns até citam o trecho da constiuição que afirmam a mesma coisa para dizer que os direitos homossexuais são inconstitucionais.
E os banheiros GLS?
Eles representam uma vitória da comunidade LGBT. Evitam constragimento a muitas pessoas, da comunidade (ou não) mas ao mesmo tempo reafirmam um pensamento que muitas pessoas tem mesmo sem conhecer mitologia ou teoria de que homossexuais fazem parte de um grupo distinto.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Devassos no Paraíso: A homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade

Como disseram aqui no blog, este livro é leitura obrigatória.

"Devassos no Paraíso", de João Silvério Trevisan, fala da homossexualidade em nosso país como um todo. Traça seu perfil histórico e sociológico.

A introdução discute a questão da identidade homossexual que tanto permeia esse blog, com a centralização em sê-lo no Brasil. A parte histórica começa com a inquisição e o "Deus punitivo" e segue até os anos em que a homofobia procurava na ciência a razão para se justificar. Continua com o papel do homossexual na arte, na mídia e no século XX, chegando a "manipulação da homossexualidade" pela sociedade atual. O que nos faz constatar que temos um passado, um legado, isso sem esquecer da epidemia da AIDS e do nosso papel nela. Nos apêndices, Trevisan fala mais sobre o vírus, integração social e as paradas do Orgulho.

Além das informações valiosas, o livro desperta o interesse por mostrar o absurdo que faz parte do nosso país. Só no Brasil é possível um transexual ser um sex-symbol enquanto travestis são mortos à pedradas. Só aqui há paradas de Orgulho com mais de um milhão de pessoas e campanhas políticas nos acusando de espalhar doenças.

Há críticas ao comportamento da sociedade que nos hostiliza, mas também ao mundinho gay e suas picuinhas.

Sem dúvida, o primeiro livro que um cidadão brasileiro que se interesse pela questão do homossexual em nosso país deve ter na prateleira. E não pra ficar de enfeite.

*

DEVASSOS NO PARAÍSO
Coleção: CONTRALUZ
Autor: TREVISAN, JOÃO SILVÉRIO
Editora: RECORD
Nº de páginas: 586

Preço médio: R$ 60,00

Coisa de homem...

Fiquei bege com essa!

Um garoto usou o Facebook para, se passando por menina, convencer outros garotos a enviarem fotos explícitas para ele. De posse delas, ainda se passando por mulher, os chantageou para que fizessem sexo com "seu amigo gay", ele!

Tá, agora que descobriram ele vai se ferrar e eu não vou dizer que acho legal fazer algo assim, mas sendo um pouco preconceituoso e imaginando que os sete meninos que toparam já deviam ter essa curiosidade, dá quase para considerar esse cara um gênio.

Por que assim, isso é bem coisa de homem mesmo. Quantos relatos já não ouvimos sobre garotos que abusam de meninas em festinhas, filmam a transa com a namorada, humilham o colega gay e colocam vídeo na net, etc?

Repito, condeno o que ele fez. Mas acho interessante ver isso acontecer com rapazes heterossexuais. Podem dizer que é despeito pelo preconceito deles. O caso é que sempre acreditei na teoria de uma "sexualidade livre", no sentido de que todos podemos nos interessar por quem quer que seja, apesar dos rótulos que adotamos.

Tipo, mulheres não ficam encucadas em dar um beijinho na amiga numa balada ou até transar com uma. A feminilidade não se perde. Mas no caso dos homens, o "fantasma" da homossexualidade deve ser combatido de qualquer jeito. E aí, mesmo com tapinhas na bunda e patoladas nos campos de futebol, fica aquela barreira do toque nas amizades masculinas tão profundas...

Muitas vezes, é justamente por esses tabus que garotos em grupo tendem a fazer estripulias que beiram a homossexualidade, descambam para a violência ao simplesmente terminam em crime.

Enfim, parece que o menino pode ser condenado a 300 anos por um acúmulo de crimes nessa história. Não dá para protegê-lo por ser gay, mas não sei também se um garoto hétero seria condenado a tanto tempo... resta julgar também como foram essas relações e como as pessoas que cederam a chantagem foram realmente coagidas a isso.

Como todos são jovens, me inclino a pensar que, crimes à parte, estavam experimentando. E que se a sexualidade masculina fosse menos frágil, as vítimas não teriam tanto problema assim em denunciar a chantagem ou simplesmente aceitar a proposta...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Brasileiros HEART Travestis

Pra quem ainda não sabe a sigla oficial da comunidade é LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bi's, Transexuais, Transgêneros e Travestis).
Não sei se foi o "caso Ronaldinho" que fez a ficha cair, mas ultimamente é notável o aumento de T's em voga na mídia: Nany People, Angélica Castro, Silvetty Montilla e a Mulher Banana (sim, isso existe. Youtubeia).
O mais interessante é que quando elas são motivo de riso é porque se pretendem ser engraçadas e não porque estão sendo ridicularizadas. E as que tem um espaço fixo na TV estão em programas focados no público feminino.
Grazi Massafera já falou que o sua referencia de beleza eram os travestis de sua cidade natal. Claudia Raia, ao interpretar a trans Ramona em "As Filhas da Mãe", falou sobre essa feminilidade maior até que as das mulheres. É claro que nesses casos nem sempre são os corpos tranformados que atraem...
O mesmo já não pode ser dito das "musas" do carnaval: Adriana Bombom, Gracyanne Barbosa, Valeska Popozuda (essa foto confude). Só para citar as que eu sei, pois nem vejo tanta TV assim. Será que elas invejam os corpos turbinados dos T's atuais e além do silicone decidiram adotar os hormônios? Ou só perderam mesmo a noção do que devia ser a boa forma física feminina?

De qualquer modo, Roberta Close e Kim Petras, a mais jovem transexual do mundo, são muito mais bonitas que essas moças de poucas plumas e muitos músculos. E mais naturais.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

"Você espera o apoio de alguma comunidade em especial?"

É por essas e outras que eu discordo dos intelectuais que falam mal do BBB. Quem viu o programa de hoje, 02 de Fevereiro de 2009, deve ter percebido o que o Pedro Bial queria ao fazer essa pergunta do título (e outras) ao participante Alexandre, depois de anunciar que o confessionário era um lugar de "revelar segredos".

Não acho que o Alexandre fosse salvo por se assumir gay. A questão com o Jean Willys foi outra, e não creio que se repita. Mas acho incrível que o Bial, certamente sob instruções do diretor do programa, tenha feito de tudo para fazer o cara admitir isso. Tá, eu sei que é assim mesmo, e todo mundo acha relevante saber da sexualidade alheia. Mas acho que não vou me acostumar com isso nunca.

Não tenho o que falar sobre a atitude do Alexandre. Para mim, por toda uma série de "pistas comportamentais", é óbvio que ele é o gay dessa edição. Mas como ele não disse, digamos que ele nem seja. Preferindo posar de bonzinho e fingindo que o Bial se referia a "população negra", só faz com que deseje ainda mais a sua saída, já que torço muito para a Priscila ficar bastante, já que ela é muito divertida. Um dia falo dela também, e de como a mídia está falando da moça...

Mas o caso é que somos vistos como parte de uma comunidade por esse traço em comum. É possível que uma parcela dessa comunidade até apoiasse o Alexandre por se assumir, mas isso seria o mesmo que todos os barbudos votarem no Lula e todos os maridos de atrizes no Ciro Gomes. Me impressiona é como o povo não percebe isso.

Aí o LD falou sobre o preconceito dentro da comunidade, que é algo que eu entendo, partindo desse princípio de que somos pessoas distintas, mas não aceito por que não é por aí. 

Digo isso por que esse preconceito não é contra falhas de caráter (se é que isso existe), mas sim com relação a efeminados e a essa cultura marginal. "Sou gay mas não dou pinta e nem frequento o meio, e muito menos curto quem o faz" é uma das coisas mais comuns na "internet gay". Ninguém é obrigado a gostar de uma coisa ou de outra, claro, mas esse desgostar raramente é sincero. Em geral, é só um reflexo dos preconceitos com os quais somos acostumados desde o nascimento.

Como apontou o LD, é um modo de se deculpar por não poder evitar ser uma coisa da qual se envergonha. Coisa mais triste...