terça-feira, 6 de janeiro de 2009

All dolled up...

Nessa semana um amigo me mandou este link, que me deu muito o que pensar.

Caso alguém morra de preguiça de ler, é o relato de uma mãe que teve que pensar no que fazer quando o filho de sete anos pediu uma boneca. Para mim, o interessante foi ela ter se visto forçada a confrontar as próprias opiniões, já que é muito fácil ser "descolado" quando a questão não é com o seu filho. Para mim, o final foi feliz, já que ela bancou suas próprias opiniões e deu a boneca, deixando o menino que ama feliz.

Eu me lembrei da minha infância, e da minha verdadeira loucura por bonecas. O LD falou da Chun-li no seu último post, e de como ela representa um identificador para nós, mas acho que dá para incluir aí a figura da boneca. Especificamente, temos a Barbie, mas a questão é que carrinho e bolas são para meninos, e bonecas, sejam quais forem, de meninas.

Quando eu era criança, queria por que queria uma Barbie. Eu gostava muito dos meus bonequinhos do He-Man, mas eu queria uma Barbie e pronto. A minha mãe, embora seja maravilhosa, não era tão modernosa nos anos 80, então eu só consegui ganhar uma quando já era quase adolescente.

Ela me comprou um livro chamado "Menino Brinca de Boneca?" e eu adorei, pois o livro não mostrava isso como uma coisa terrível. Aí ela disse que "o livro não era o que ela esperava", e acho que foi aí que eu comecei a pensar por mim mesmo.

Claro que quando eu era criança eu não sabia que era gay. Sabia que era diferente, mas isso por que os outros me diziam isso. Mas naquele momento, eu vi que a minha mãe não era uma super-heroína e que os adultos não sabiam de tudo. Vi que ela estava buscando ajuda, e que tinha sido boba o suficiente para me dar um livro sem lê-lo. Achei ótimo, pois o livro tinha uma mensagem tolerante, então ela acabou me educando melhor, mas não era o que ela queria... e essa distração me fez ter mais autonomia.

Hoje, ela e todo mundo sabem que eu sou viado. Talvez eu não escolhesse ser assim, mas tem muitas vezes em que eu acho que escolheria sim. Mas não acho que foi por causa de um brinquedo, né?

Talvez eu nunca me interessasse por bonecas se já não fosse me tornar homossexual, mas essa atribuição insana de valores às coisas é ridícula. Acho que brincar de boneca tem um enorme apelo para qualquer criança... no caso da Barbie mesmo, era muito legal reproduzir a vida, com carros, casas. Na época ela não era tão fantasiosa quanto agora, que tem muitas fadas e princesas... a fantasia ficava nos brinquedos da Disney e nos de meninos, já que o He-Man era um bárbaro tecnológico de outro planeta.

Me lembro também de uma cena que testemunhei numa loja de departamentos, quando lançaram aqueles bonequinhos dos Power Rangers. Bonecos de menino, e eu escutei um pai dizendo que não ia comprar os cinco bonecos para os filho por que dois eram mulheres. Como assim? Não dá para ficar tirando onda de Freud, mas talvez seja exatamente o tipo de experiência traumática que faria o menino entrar em choque com a sexualidade dele. É muito brutal esperar que uma criança, que só quer brincar, absorva preconceitos sociais.

Enfim, fiquei comovido com a história dessa mãe. Espero que todas as crianças possam, um dia, ter uma infância assim. Livre de preconceitos. No fim das contas, todo mundo se torna o que tiver que se tornar, então o legal é ser feliz. Sempre.

Um comentário:

  1. Engraçado isso da gente, quando criança, se perceber diferente. Isso deve acontecer MUITO, mas acho que na nossa época o conceito do que é ser gay não é o mesmo de hoje e não era comentado na frente de crianças.

    Será que isso mudou hoje em dia? Será que as algumas crianças já se veêm como gays? Sei lá, pra mim ser gay veio com a puberdade e o surgimento do interesse físico. Acho que seria errado uma criança começar a se ver como gay só porque gosta de coisas que não "são" para o seu sexo. Será que os pais não percebem que devem acabar confundindo seus filhos?

    Pena que crianças não tem muito como expressar suas opiniões sobre o assunto...

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