quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Pura Utopia...

Então, para tentar concluir o grande e obsessivo arco sobre "identidade-invisibilidade-novela das oito", resolvi comentar sobre o nosso primeiro comentário "externo".

Homem Inteligente Viril disse:

"O simples fato de existir esse blog, já é a necessidade do gay (no caso vocês) de não estarem na INvisibilidade, o gay de hoje, pelo menos a maioria não está atrás de invisibilidade, quer aparecer, mostrar a cara, mostrar que é diferente, escrever um blog ... Um hetero não teria o que escrever, se quisesse escrever sobre sua heterossexualidade ... Ele tem a genuina INvisibilidade."

Achei engraçado por que eu pretendia falar sobre isso quando "A FAVORITA" finalmente acabar, para fechar logo esses assuntos. Eu sou um obsessivo assumido, apaixonando-me perdidamente por certos assuntos, e aí fica difícil não ficar repetitivo... Como os questionamentos midiáticos do LD casaram com isso num diálogo, essas nossas primeiras duas semanas giraram sobre esses tópicos, e agora é a hora de partir para o que realmente importa: o BBB!

Mas enfim, quem conseguiu entender os meus clamores nos posts sobre o assunto, viu que o que eu acho curioso e também injusto é a rotulação baseada em sexualidade. Na minha utopia, há a INvisibilidade sexual para todos, pois ser gay ou hétero é algo tão involuntário quanto ser bonito ou feio, carioca ou paulista...

Se não existisse "o gay" como selo de identificação, esse blog não existiria (tá, eu podia dividir um blog com um amigo sobre algum outro assunto... mas vocês entenderam), e não existiria a "cultura gay".

Mas a questão é que existe, não importa o quanto eu queira lutar contra isso. Discordando do meu parceiro, eu acredito que a simples existência da parada gay, ainda que fosse uma orgia ao ar livre sem sentido, já é política. Já traz a visibilidade que a "comunidade" sempre buscou como forma de representação política.

Criaram um "dia do orgulho hétero", como forma de gozação do dia do orgulho gay. Não acho que ninguém deveria ter orgulho de ser uma coisa ou outra, mas discordo do nosso comentarista sobre a impossibilidade de um blog de "cultura hétero". Sempre que nos debruçamos sobre um nicho, por maior que seja, aparecem questões próprias.

Existem blogs gays, blogs feministas, blogs sobre futebol, blogs de religião... só não existem blogs sobre heterossexualidade (e deve existir algum, nem me dei ao trabalho de procurar) por que a maioria dos heterossexuais não é obrigada a se identificar como tal.

No caso do homem, a masculinidade é uma coisa constituída a partir de valores culturais. É preciso ser homem, e um dia falo disso com calma. Mas ainda assim, nenhum homem precisa dizer que é hétero. Só que se ele se "desvia" da conduta masculina, acaba sendo identificado involuntarimente como "gay".

Pode ser que eu, o LD e os outros gays do mundo tenhamos o desejo de nos expor. No meu caso, acho que um desejo de mostrar o meu valor apesar dessa "falha", o que é um loucura construída pela minha criação, tabus e vitimização. Mas não posso falar pelos outros. O caso é que falar é só uma opção. Nós já fomos expostos. Já somos visíveis.

Sobre a novela, apesar das declarações, para mim não está explícito que a Flora seja apaixonada pela Donatela. "Eu te amo" é uma coisa, e ela ter amor, paixão e desejo carnal por ela é outra. Caso se comprovasse a hipótese lésbica, seria um passo adiante rumo ao meu ideal. Teríamos um homossexual cuja sexualidade não foi seu estandarte, e que foi significativo na trama sem debater os "assuntos gays".

Ainda assim, essa opção só seria possível pela revelação tardia, já que o público talvez não suportasse uma relação gay como tema central de uma trama, e talvez os grupos de militância gay não permitissem que uma vilã tão doida fosse assim por esse motivo... Ainda há muito o que caminhar, e muitas vezes eu acho que não passa mesmo de utopia. É impossível agradar a todos, então nunca teremos uma novela que fale da homossexualidade agradando a gays e donas de casa católicas.

Resta esperar que a NOSSA invisibilidade um dia venha. E quem sabe então esse blog não passa a ser só sobre opiniões...

2 comentários:

  1. Sim, me repetindo, mas enquanto alguém sentir a necessidade de manter um blog como este (o que não é ruim) a "NOSSA invisibilidade" continuará sendo utopia. Mas tudo bem, o que seria de nós sem ter lá no fundo da alma a utopia?
    Por enquanto fico feliz de encontrar na rede um ambiente confortável aos olhos, e à minha inteligência, no meio de tantos mulekes, gatinhus, mamadas, galera, e toda a sorte de demonstração de mediocridade on-line.

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  2. Será que a heterossexualidade é tão invisível assim?

    Acho que todo mundo quando vai a uma boate gay ou vê o seu primeiro filme gay tem o choque do diferente. Já que não é esse o modelo repetido a exaustão, à indiferença, a invisibilidade...

    Acredito que culturas orientais como a indiana e a japonesa que proibem demostrações públicas de afeto não diriam que a heterossexualidade em algumas culturas ocidentais, como a nossa, é tão invisível assim.

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