segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Drama Queers

Terminando o arco com o Orlandinho e a (in)visibilidade, quero falar especificamente sobre o homossexual na TV. Neste último sábado, a GLOBO exibiu “Brokeback Mountain”. Gostem ou não dele, é inegável o valor desse filme para a Comunidade Gay. Nunca antes um filme com temática homossexual conseguiu tanta atenção, tendo boas chances de levar um Oscar de melhor filme, e terminando com o de melhor diretor para o Ang Lee. Por fim a Rede Globo o exibiu e sem cortes. Vimos na tela do plim-plim um beijo gay e uma ótima cena de sexo também.

Pois é. Já faz anos que Jefferson e Sandrinho se assumiram, com muito estardalhaço e poucas cenas. Agora, TODA novela tem pelo menos um personagem gay. Andamos muito desde as lésbicas explodidas em “Torre de Babel”. Só que mais uma vez me vem o incômodo da (in)visibilidade.

O Nelson Rodrigues é o que é por ter exposto a moral da “Família Brasileira”. É o velho jeitinho. Tudo pode, desde que ninguém saiba. E assim, o desfile de personagens gays nas novelas, nossa maior vitrine cultural, tem uma imagem esterilizada. Politicamente correta. Mas será mesmo?

É muito difícil agradar todo mundo, claro, e sabemos que os grupos de militância gay não gostariam de nos ver representados exclusivamente como seres promíscuos e efeminados (no caso dos homens). Mas me incomoda que os gays nas novelas sejam sempre casais estáveis, monogâmicos, limpinhos, bonzinhos, bonitinhos... Fica um tabu de que aquela personagem, por ser gay, é só gay. Esta é sua única função. E de certa forma, essa “deficiência sexual” é compensada com uma postura corretíssima.

Nossa grande novela é a de quando teremos um beijo gay. Acho importante. NUNCA tem beijo, pois isso pode chocar as famílias, em especial as crianças (ODEIO essa idéia de que criança é burra). Chocar com o que? As mulheres mostram peito, bunda, todo mundo fala palavrão, os beijos são verdadeiros chupões, todo mundo transa horrores, rouba, trai a mulher, mata. Tem gente que abandona neta com síndrome de down, vende o neto, pai que manda seqüestrar o filho, sem falar na GLOBELEZA que é o Carnaval. Toda uma sorte de coisas maravilhosas que não chocam as crianças que, é claro, morreriam se vissem dois homens se beijando.


Repito, não dá para agradar todo mundo, e é o próprio preconceito da comunidade que faz com que os novos gays da TV nunca dêem pinta e que acabem refletindo um ideal de casamento hétero que sequer existe. Existem, sim, gays extremamente efeminados e muitos são como aquela imagem que os héteros têm sim: promíscuos, incapazes de relações estáveis... vários não são cultos, refinados, limpos e bem cuidados, como parece ser o chavão do GAY CHIC. Enfim, muitos são muito HOMENS, nesses quesitos que irritam as mulheres. E claro, existem esses casais, como os representados. Qual é o problema? Todo mundo é livre, todos deviam ser como quisessem. Não quero soar moralista, por que não sou meeeeesmo, mas um dos especiais de fim de ano da Globo foi o “Aline”, onde uma menina tinha dois namorados. Não vi ninguém protestando. E se os dois garotos tivessem resolvido se pegar?

Acho que deviam, se é isso que querem,mostrar a vida gay como um todo. Esses personagens são O CASAL GAY, quando se existisse REALMENTE visibilidade, respeito e aceitação, o vilão poderia ser gay. Ou a mocinha, o ladrão, o padre... enfim, qualquer personagem, já que a sexualidade, se é aceita, não deve ser um agente definidor das pessoas.

Tenho certeza que essa representação já ajudou muita gente a refletir sobre a vida gay, a aceitar mais facilmente um filho gay ou a se reconhecer como tal. Mas eu acho muito engraçado que exista um personagem gay sem que exista um personagem hétero. Tá bom, tem o personagem gay e todos os outros são implicitamente heterossexuais e não adianta fingir que na nossa sociedade já existe uma aceitação geral e irrestrita da homossexualidade. O caso, é que ser gay se torna uma função.
É claro que existem questionamentos que só a homossexualidade traz, e a grande maioria tem um potencial maravilhoso a ser explorado na dramaturgia, mas a maior luta de qualquer “minoria” é por igualdade, e para mim isso só seria possível com invisibilidade. Invisibilidade no sentido de aceitação mesmo. A “visibilidade” como conquista do Orgulho Gay é muito importante, pois mostrando que estamos aqui fazemos com que nossas questões entrem em pauta e sejam pensadas. Mas o certo era sermos invisíveis também. Sexualidade não devia ser função ou cartão de visita. O Gore Vidal é um dos que falam sobre isso.

Na novela, temos o vilão, a mocinha, o herói e o personagem gay, da mesma forma como tínhamos na escola o gordinho, o CDF e a bichinha. Eu adoraria ver um casal gay como protagonista de uma novela, ou um grande vilão dando pinta de forma maquiavélica. Isso por que “o personagem gay”, quando exerce qualquer função, em geral é a de “ser gay”. De falar desse problema, do preconceito, ou das plumas e paetês. Só que o vilão só precisa ser mau e nada mais. Ninguém está questionando a sua sexualidade - o que automaticamente implica em heterossexualidade - e por isso ele pode exercer sua função na trama como um personagem de peso.

Volto a dizer, não dá para fingir que gays passam pela vida sem serem o tempo todo confrontados com sua sexualidade, mas acho que essa especificação numa novela acaba denunciando como essa “diferença” é definidora.

Mas enfim, vamos esperar que um dia os personagens gays sejam algo mais do que são. Ou que existam "personagens hétero". Tipo isso mesmo, alguém que não faz nada, só é hétero e pronto, sem ter outra preocupação na vida.

Um comentário:

  1. Acho o beijo do re-encontro o melhor beijo do cinema. E não só gay. Sem exagero. Por isso fiquei feliz de ter visto que não foi cortado. Ver mesmo eu não vi porque era dublado e meu irmão não ia deixar eu ver com SAP mas eu passei pela sala na hora cena.

    Queria saber se alguma criança morreu quando viu a cena. Deve ter sido engraçado o desespero dos pais desavisados correndo pra tapar os olhos do filhos. Se isso aconteceu mesmo. O meu sogro só foi perceber que Dennis + Jack não eram só vaqueiros muito amigos vendo o filme e resolveu não assistir mais. Mal sabe ele...

    Será que alguém tem alguma história engraçada de desavisado? Seria legal...

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